terça-feira, 4 de setembro de 2012

UM ANO SEM TI MEU FILHO...

Tempos houve em que escrever me transmitia prazer, era no fundo, apenas transcrever para o papel as emoções que a vida me proporcionava, falar sobre felicidade, sobre melancolia. As palavras fervilhavam no meu cérebro, ansiosas por saltarem para o papel e descreverem as pessoas, o sol, a chuva, os afectos, a alegria de viver, aqueles pequenos (grandes) momentos que nos fazem rir, que nos fazem chorar...

Passou um ano! Um ano, uma eternidade...
As palavras já não fluem para o papel, aquele misto de emoções que significa viver, já não existe. Sinto-me triste, vazia e sem forças. A dor consome-me a cada segundo e, arrasto diariamente os pés para esta dolorosa caminhada, procuro respostas que não encontro e finjo que está tudo bem, que me aguento perfeitamente.


A meu lado estão pessoas maravilhosas, que adoro e, me ajudam a enfrentar cada novo dia mas, persiste uma escuridão aterradora dentro de mim... procuro o interruptor para acender a luz, mas esta nunca mais me mostrou a sua cor, apenas o negrume. Sem o teu brilho aqui filho, o dia virou penumbra.

Revejo mentalmente as tuas feições amadas e, percorro em pensamento o teu rosto, revejo o teu riso puro e cristalino e, por breves segundos, sorrio para ti. Mas, a saudade é tão profunda  e doí tanto, que chega a queimar por dentro... 

Uma grande parte de mim desapareceu no dia 4 de Setembro de 2011. As datas marcantes costumavam ser um acontecimento feliz, presentemente representam um pesadelo, que apenas serve para reavivar memórias dolorosas. Quem me dera que o calendário desaparecesse!

Antes da tua partida, possuía o equilíbrio na medida certa, tu e a tua irmã representavam um pilar de cada lado da minha existência, o que me proporcionava o apoio correcto. Quando tu partiste filho, levaste contigo o meu pilar e, por muito que me esforce para não balançar, nunca mais encontrei a estabilidade. 

Ainda espero um milagre: acordar, ver-te deitado na tua cama, recomeçar um novo dia e, que tudo volte a ser como antes... Guardaria no pensamento este ano de sofrimento para me recordar sempre, a cada segundo, de agradecer a Deus a dádiva da tua existência. 
Preciso tanto de ti querido!
Queria tanto escrever-te coisas lindas filho... mas sinto-me tão triste...
AMO-TE FILHO.

Transcrevo a frase de um autor anónimo, com quem partilhei o sentimento  tão verdadeiro que esta contém:

"Quando um dos seus pais morre, você perde o seu passado; 
quando um dos seus filhos morre, você perde o seu futuro."


domingo, 4 de março de 2012

SEIS MESES LONGE DE TI...



Fui abençoada com dois filhos maravilhosos, mas por algum motivo que jamais irei entender, há seis meses, num domingo, tal como hoje, foste chamado para outra vida, num outro lugar...não consigo deixar de pensar porque é que o destino nos fez uma crueldade destas...

Sei que continuas junto a mim, sinto-o perfeitamente, mas a saudade da tua voz, do teu riso, do teu abraço, por vezes, deixam-me fora de mim! É quase fisicamente impossível suportar este sentimento e muitas vezes, a mente tem que ser adormecida com calmantes, para anestesiar esta dor. Esta dor de saudade, é como uma ferida em chagas, que quanto mais o tempo passa, em vez de sarar lentamente, cada vez a chaga é mais profunda e dolorosa. Não existem palavras no dicionário que descrevam este sentimento, esta angústia, esta impotência, que nos consomem, e que temos que ocultar aos olhos dos outros.

Trouxeste a minha vida um colorido inigualável, que jamais voltará! Foi maravilhoso ver-te crescer, e no âmago do meu ser, sinto uma felicidade e um orgulho imenso, por ser "a tua mãe", e é por te amar tanto, que me é impossível conceber a vida sem ti.

Conversar diariamente contigo no teu quarto, partilhar as minhas emoções, pedir-te conselhos, faz a distância encurtar.
Por vezes, imagino que estás na Inglaterra, em Cambridge, tal como estava previsto, e que voltarás em breve para a nossa casa, para a tua casa.
Tenho tantas, tantas saudades tuas filho! 
És e serás sempre "O MEU MENINO"


sábado, 4 de fevereiro de 2012

"Sinto-te"

Por momentos, fecho os olhos e, na minha mente interior, consigo visualizar-te perfeitamente, tal como quando desfrutar da doçura da tua presença física era habitual.
Antes, quando não estávamos juntos, não ficava permanentemente a pensar em ti. Tu seguias o teu caminho e eu seguia o meu. Éramos dois seres que, apesar do amor que os unia, caminhavam separados.
Agora, já não é assim...agora vives comigo em cada passo, em cada pensamento, em cada sopro da minha respiração. Respiro por nós dois e, somos um único ser, cujos corações batem em uníssono, já não há distância...   

Houve alturas em que duvidava ou me questionava sobre a possibilidade de existir vida depois da vida. Quando o coração pára será o fim, ou haverá algo mais que não entendemos e nos transcende? 

Talvez nunca deixe de me questionar sobre o porquê de te ter perdido, o porquê de não teres vivido os teus sonhos, o porquê de não teres tido o direito de chegar à velhice...provavelmente essa pergunta ficará por responder. Mas, há algo sobre o qual já não me questiono: a pergunta que fiz há pouco, "haverá vida depois da vida?". Seja energia, seja espiritual, seja o que quer que seja, que não entendemos, sei que estás vivo e presente.
Não penso que sei porque "talvez", sei que sei, porque tenho a certeza que sei! Porquê essa certeza? Porque "Sinto-te".
Não preciso de mais evidências, sinto a tua presença e, sei que estás muitas vezes a meu lado.
Recordo uma frase, que um dia a terapeuta que me tem ajudado a superar  a tua ausência, me disse:

"Lembre-se que quando o sol se põe e não o vê, você sabe que ele existe à mesma, 
não está ao alcance dos seus olhos mas, sabe que ele está lá, 
a brilhar e, a iluminar outro lugar...
Quando pensar no seu filho, pense o mesmo, você não o vê mas, sabe que ele existe e está lá, 
a dar brilho a outro lugar..."

Sendo que tu filho, tens um brilho tão especial, certamente enches esse lugar de luz.
Sei que estás aí porque, "Sinto-te".


terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Apenas o silêncio

Entre outras qualidades, tinhas um dom, o dom da música.
Em criança aprendeste a tocar flauta de bisel e muito cedo, revelaste talento para a música. Num pequeno piano de brincar, começaste sozinho a demonstrar capacidades musicais acentuadas. 
Mais tarde, oferecemos-te um órgão musical, onde desenvolveste os teus talentos naturais. Acabaste por te inscrever algum tempo no piano, instrumento de que tanto gostavas mas, foi a guitarra que se veio a revelar a tua grande paixão.
Comprámos-te a tua primeira guitarra (que guardamos carinhosamente no teu quarto, assim como a tua guitarra elétrica) e, a partir desse momento, em sintonia com as tuas capacidades inatas, frequentaste durante alguns anos um curso de guitarra, o que permitiu desenvolver imenso o teu potencial.
Pouco a pouco, fomos aumentado, segundo a tua vontade, o equipamento musical, para te permitir aperfeiçoar o teu talento e assim, poderes um dia realizar o teu sonho de tocares numa grande banda estrangeira.
Pelos corredores da nossa casa, era habitual ouvir o som maravilhoso das cordas da tua guitarra. Muitas vezes, o som estridente da tua voz no micro, quando cantavas as músicas que escrevias, fazia-nos rir.
Sentia-se a tua felicidade quando tocavas...
Também a tua irmã aprendeu a gostar de música, fez a sua aprendizagem, e até ao início de Setembro de 2011, passava várias horas a tocar flauta.
Depois que tu partiste filho, não só terminou o som da tua guitarra, como também nunca mais se ouviu o som da flauta da tua irmã mas, estou confiante que um dia, ela vai recuperar essa vontade de tocar e, por ela e para ti, vai encher a nossa casa com a sua música.

Nesta casa, nestas paredes, já não se ouve o som da tua guitarra, nem o som da flauta da tua irmã, apenas o silêncio...